domingo, 12 de julho de 2015

O que é ser da 422



O texto que se segue é do meu Alferes Ângelo. 
Um bem haja a todos!

"E tudo teve início na chamada "Pesada 2" em Vila Nova de Gaia, onde se juntaram uns 160 homens, oriundos do Minho ao Algarve, mas com uma percentagem muito maior do norte de Portugal.

Estávamos no final do ano de 1962.

Quase todos estavam na casa dos 20/21 anos, excepto alguns oficiais e sargentos, que eram mais velhos.

Gente jovem, portanto, que ainda não estava formada para enfrentar os perigos da guerra.

Em Abril, quando partimos para Angola, pode dizer-se que estavam bem melhor preparados, física e psicologicamente, pois a instrução a que foram submetidos foi de grande dureza, dado que os alferes e o capitão tinham passado pelo melhor que havia na altura, em termos de instrução de guerrilha.
Começou ali, em Vila Nova de Gaia, o que podemos chamar o primeiro contacto com um cenário de guerra.
Com certeza que à medida que chegava a hora da partida para Angola, os receios e os medos do que se iria encontrar, aumentavam.
Não há dúvida que até ali, tirando um caso ou outro, a Amizade entre todos era ainda reduzida.
Na travessia do Atlântico, no Vera Cruz, passaram-se dias maravilhosos, relaxantes, onde deu pra ver, naquela imensidão de água, o quanto o Homem é pequeno, comparado com a Natureza.
Vieram depois os locais onde se travava a guerra e tudo o que "ela" envolvia, com uma tensão nervosa permanente, quer nos aquartelamentos por onde passámos, quer na mata, no capim, nos morros ou nas estradas a pensar nas minas e emboscadas.
Todo este stress, que ao mesmo tempo que nos dava cabo do sistema nervoso, também nos ajudou a crescer como Homens, pois tivemos que enfrentar e vencer os medos, os perigos, as fraquezas, a sede e a fome.
E sabíamos, todos sabíamos, que podíamos sempre contar com os nossos companheiros do lado, da frente, ou de trás, para o que fosse preciso fazer, sem nada pedir em troca.
Quantas vezes bastava a coragem ou o sacrifício de um para que todos à volta ganhassem a confiança que parecia ter desaparecido naquele momento.

RESUMINDO:

  • Se foste mobilizado pelo RAP 2;
  • Se foste no "Vera Cruz" em 10/04/1963 e regressaste no mesmo navio em 27/07/1965;
  • Se andaste pelas picadas do Zalala-Quijoão-Mata dos Dembos-Baixa do Mugage e tantas outras;
  • Se ias ao reabastecimento a Quitexe e a Carmona e vinhas de regresso a Zalala, com "uns copos";
  • Se "visitavas" as Sanzalas por onde estivemos aquartelados;
  • Se assististe a apanhar montes de peixes do rio, pelo nosso médico, com uma cana de pesca chamada "granada";
  • Se tiveste medo, mas foste capaz de vencê-lo e se das fraquezas criaste força para sempre;
  • Se deste grupo fizeste AMIGOS verdadeiros para toda a vida, então podes dizer e gritar com orgulho que pertenceste à CART 422."

"DITOSA PÁTRIA QUE TAIS FILHOS TEVE" 




Fotos tiradas no Zalala
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