quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Aires da Pesada e a Energa



Uma de muitas operações militares da C'ART.422 ficou marcada por um episódio que nunca esquecerei.

A certa altura, , ao fim do 2º dia no "mato", e depois de alguns tiros esporádicos, aparece-nos ao longe uma clareira toda descampada.

Ora, os militares que iam na frente, davam ordens para parar e deitar-nos no chão.

A ordem que chegou a seguir foi que as metralhadoras avançassem para a frente.

O Aires, que tinha como arma uma ENERGA, foi "convidado" a trocar de lugar por um camarada que já seguia na frente há muito tempo.

A ENERGA, naquele descampado, não tinha muita utilidade.

Servia mais para destruir cubatas ou alguns obstáculos, tais como Guerrilheiros entrincheirados. Era quase como uma granada de longo alcance.

Quando avançamos mais uns metros, começa o tiroteio!

E nunca mais acabava... 

Quando tudo acalmou, alguém toca no ombro do Aires e pergunta:

- "Aires, estás bem?"

Respondeu que sim. Estava tudo bem...

- "No meio desta confusão, no meio desta poeira, pensei que tinhas sido atingido. Ainda bem Aires... Que grande alívio!"

A altura era propícia a emoções... Mas aquela atitude do nosso Capitão João Vila Chã, tocou os nossos corações.

Emocionou-nos!

Ainda hoje, nos encontros da C'ART 422, se fala deste episódio!

Um abraço meu capitão!

Bem haja!
Imagem retirada daqui:

domingo, 12 de junho de 2016

Mais um ano juntos, mais histórias!



Amigos, ontem foi dia de mais um encontro da nossa C'ART 422.

Foi um dia bom!
Valeu pelo convívio.

Deixo-vos hoje com uma foto minha com o nosso Capitão (Major) João Gonçalves Vila Chã.

Um abraço para todos do amigo Aires - 1º Cabo 2625



OBS: Vou ficar à espera das vossas contribuições para que este Blog continue a crescer!



quinta-feira, 2 de junho de 2016

Cartas da Guerra



Hoje vou falar-vos de uma coisa comum a quase todos os soldados de guerra... As cartas de amor.

Vai estrear um filme chamado "Cartas da Guerra", do Ivo Ferreira.

O filme é baseado num livro de António Lobo Antunes, que tem por título "D'este Viver Aqui Neste Papel Descripto - Cartas da Guerra", sobre o qual vou transcrever o prefácio e uma das cartas.

Bem haja a todos!

Um abraço do vosso amigo Aires - 1º Cabo 2625


Do Prefácio

"As cartas deste livro foram escritas por um homem de 28 anos na privacidade da sua relação com a mulher, isolado de tudo e de todos durante dois anos de guerra colonial em Angola, sem pensar que algum dia viriam a ser lidas por mais alguém. Não vamos aqui descrever o que são essas cartas: cada pessoa irá lê-las de forma diferente, seguramente distinta da nossa. Mas qualquer que seja a abordagem, literária, biográfica, documento de guerra ou história de amor, sabemos que é extraordinária em todos esses aspectos (...) Este é o livro do amor dos nossos pais, de onde nascemos e do qual nos orgulhamos. Nascemos de duas pessoas invulgares em tudo, que em parte vos damos a conhecer nestas cartas. O resto é nosso."
Maria José Lobo Antunes
Joana Lobo Antunes

A Carta

7.3.71

"Hoje, domingo, passei a manhã numa cerimónia curiosa, a assistir à esconjuração de uma doente, para que a doença saísse de dentro dela. Como sou uma personagem de marca sentaram-me na única cadeira existente, dando a direita ao soba. Depois 3 homens tocavam tambor, a doente foi sentada numa esteira, e a malta dançava e cantava em volta uma melopeia estranhíssima. Estava um calor como não me lembro de ter sentido na minha vida, não havia uma única nuvem no céu e tudo brilhava e reluzia. Assisti à cerimónia por acaso, porque andava à procura de cachimbos e pentes. Aquelas coisas de madeira em que se faz o pirão, uma espécie de almofariz assim, mais ou menos trabalhado, ficava estupendo em nossa casa como cesto de papéis ou outra coisa qualquer. Há-os muito bonitos, mas são bastante pesados. Estou a pensar mandar fazer um baú para levar os objectos que por aqui vou juntando, e que nunca vi em parte nenhuma em Lisboa. Os bibelots ficam por minha conta. A fim de escolher só coisas que valem realmente a pena tenho passado o meu tempo livre a esquadrinhar os quimbos. Hoje, por exemplo, vi um cachimbo giríssimo mas não mo quiseram vender, apesar de eu oferecer a exorbitante quantia de 10$00. Tenho a impressão de que a tia Hiette, por exemplo, perderia a cabeça por estas paragens. Espero que não te horrorizes quando me vires chegar cheio de coisas para as quais, talvez, pelo número, não tenhamos lugar em casa. Vamos a ver se levo algumas em Outubro, quando aí for. E o mais incrível é que no meio disto tudo ainda só gastei 20$00."



Apreciem a leitura!